Briga entre juíza e porteiro vai parar na Justiça.
Uma briga de condomínio vai parar na Justiça. A juíza federal Edna Carvalho Kleemann, da 12ª Vara Federal, é acusada de ter chamado de “bolo de banha” o porteiro de seu prédio, em Copacabana, depois de tê-lo flagrado dormindo em serviço. A ofensa teria sido feita em um e-mail enviado à síndica, no início deste ano. Agora, o funcionário, Jaílson Trindade Andrade, entrou com uma ação por danos morais contra a magistrada.
O caso já chegou às mãos da juíza Marisa Simões Mattos Passos, da 1ª Vara Cível do Rio, conforme informou, nesta quarta-feira, o colunista Ancelmo Gois. Os desentendimentos começaram no ano passado quando Edna teria encontrado o porteiro dormindo, ao sair pela manhã, para ir à academia de ginástica. Edna teria pedido a demissão dele, mas o condomínio não concordou. A ofensa teria ocorrido em uma das mensagens em que tratava do assunto.
— Ela cismou comigo. Se dependesse de mim, nem entraria com um processo. Tenho até medo disso. Sou um joão-ninguém, né? Mas agora eu quero ir até o final — diz Jaílson, que tem 160 quilos e 1,75m de altura.
No suposto e-mail enviado à síndica, a juíza afirma: “Quero, exijo e não vou descansar enquanto este ‘bolo de banha’ trabalhar no condomínio, já que sou eu, proporcionalmente, quem paga o salário deste funcionário relapso e desidioso”. Em uma outra carta atribuída à juíza e enviada a moradores, que Jaílson guarda na carteira, Edna teria afirmado que estava se sentindo insegura, porque agora tem “um inimigo declarado” trabalhando para ela.
No relato da juíza, ela saía do prédio para ir à academia, por volta das 5h45m, quando viu o porteiro roncando na portaria, com a porta da garagem totalmente aberta. Jaílson admite que estava cansado e que tirou uns cochilos, mas discorda da atitude da moradora:
— Foi verdade, mas ela não tem motivo de fazer o que fez. Estava dobrando, fazendo 24 horas. Estou aqui há três anos sem tirar férias. Nunca falei que foi mentira — contou Jaílson.
Após a reclamação da juíza, a administração do prédio deu uma advertência ao porteiro, que passou a trabalhar de manhã. Síndica do prédio há três anos e meio, Cláudia Maia conta que nunca teve problemas com Jaílson e que os próprios moradores foram contra a demissão dele:
— Não era motivo para ele ir embora. Então, começamos a sentir que havia uma certa implicância. Ela acha que aquilo que diz tem que ser seguido. É muito autoritária.
Para o subsíndico do prédio, o advogado Manoel Peixinho, o caso é ainda mais grave por envolver uma juíza:
— Imagina ela julgando casos de descriminação? Por ser juíza, é muito mais grave. Pessoas como ela precisam aprender que ninguém está acima da lei.
Além do processo na área cível, o advogado de Jaílson, Fernando Stutz, disse que também vai encaminhar a acusação para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), responsável por fiscalizar o Judiciário.
— Além disso, vamos mandar um ofício para a Comissão de Direitos Humanos da OAB e da Alerj — disse o advogado.
PORTEIRO FALA EM HUMILHAÇÃO
A juíza foi encontrada na saída do condomínio, mas não quis se pronunciar sobre o assunto. A assessoria de imprensa da Justiça Federal informou, em nota, que a magistrada está de férias. Casado há 28 anos, pai de dois filhos e morador de Mangaratiba, na Costa Verde, Jaílson conta que nunca teve problema com o sobrepeso. Segundo ele, o desconforto de ser obeso só aparece no caminho de volta para a casa, quando enfrenta até quatro horas dentro de um ônibus.
— A gente sofre humilhação toda a hora por causa do peso. Se pego o ônibus, quando ainda está vazio, e sento no banco, o lugar ao meu lado será o último que alguém vai sentar, por exemplo. Mas ofensa assim nunca tinha sofrido — disse Jaílson, que já procurou a rede pública de saúde para fazer uma cirurgia bariátrica. — Estou doido para operar. Já fiz alguns exames. Mas estou bem de saúde. Graças a Deus, não tenho nada. Pressão alta, diabetes, nada.